Mesmo as empresas de e-commerce mais consolidadas raramente percorrem um caminho linear desde a conceção de uma ideia até à criação do produto final.
O desenvolvimento de um novo produto é um processo iterativo que exige pesquisa, prototipagem, validação e coordenação entre várias áreas funcionais. O presente guia descreve as principais etapas que conduzem uma ideia até ao mercado, detalhando métodos de planeamento, execução e melhoria contínua ao longo do ciclo de desenvolvimento.
O que é o desenvolvimento de produto?
O desenvolvimento de produto é o processo que conduz uma ideia desde a sua formulação inicial até à entrada no mercado. Este processo pode incluir:
- Desenho e conceptualização
- Criação de um roteiro de produto
- Investigação de mercado
- Lançamento comercial
- Recolha e análise de feedback dos consumidores

Este processo integra várias áreas da organização - engenharia, design, produção, marketing e gestão.
Nas empresas de maior dimensão, a coordenação é geralmente assegurada por gestores de produto, que supervisionam a execução técnica, comercial e operacional das etapas.
O processo de desenvolvimento de novos produtos em 7 etapas
O desenvolvimento de produto pode assumir diferentes configurações consoante o setor ou o tipo de produto, mas segue geralmente sete fases principais:
- Geração de ideias
- Esboço e definição do produto
- Validação de mercado
- Criação de protótipos
- Identificação de materiais e parceiros de produção
- Cálculo do custo de produção
- Lançamento comercial
Estas etapas constituem uma estrutura de referência aplicável a qualquer indústria, permitindo organizar o percurso desde a fase de conceção até ao mercado final.
1. Geração de ideias
A inovação raramente nasce de ideias completamente inéditas. Muitos produtos bem-sucedidos baseiam-se em conceitos já existentes, modificados ou combinados de forma criativa.
Uma metodologia útil é o framework SCAMPER, que ajuda a gerar novas ideias através de sete abordagens:
- Substituir: trocar materiais ou componentes (ex.: couro sintético em vez de couro natural).
- Combinar: unir dois produtos num só (ex.: capa de telemóvel com bateria incorporada).
- Adaptar: ajustar um produto a novas necessidades (ex.: soutiens de amamentação com fechos frontais).
- Modificar: melhorar o design existente (ex.: escovas de dentes elétricas com formato ergonómico).
- Utilizar de outra forma: encontrar novos usos para produtos existentes (ex.: camas para animais com espuma de memória).
- Eliminar: remover elementos desnecessários (ex.: reduzir intermediários na cadeia de fornecimento).
- Reverter/reorganizar: alterar a ordem ou o formato de utilização (ex.: substituir plástico por vidro no armazenamento alimentar).
Um exemplo ilustrativo é o caso de Lindsay McCormick, fundadora da Bite, uma marca de pastilhas de pasta de dentes. Ao analisar o impacto ambiental dos tubos plásticos tradicionais e os químicos agressivos usados nas fórmulas convencionais, concebeu uma alternativa mais sustentável e segura.
A empresa tornou-se referência no setor, provando que a inovação pode surgir da reinterpretação de um produto existente.
2. Esboço e definição do produto
Depois de validada a ideia inicial, segue-se a fase de conceção e desenho do produto. Nesta etapa, são elaborados esboços e maquetes que descrevem os componentes, as dimensões e as funcionalidades essenciais.
Não é necessário possuir competências artísticas avançadas, é possível recorrer a ilustradores técnicos ou designers industriais. O objetivo é transformar a ideia em algo tangível, definindo os detalhes necessários à futura prototipagem. Fonte: Hidden Radio
3. Validação de mercado
Antes de avançar para a produção, é essencial validar a aceitação do produto junto do público-alvo. Esta etapa permite confirmar se a proposta de valor responde efetivamente às necessidades do mercado.
Algumas estratégias eficazes incluem:
- Inquéritos online e entrevistas a potenciais clientes;
- Campanhas de crowdfunding para testar procura real;
- Publicidade experimental (anúncios de teste);
- Análise da concorrência e das tendências de consumo;
- Estudos de viabilidade financeira e técnica.
Durante a validação, deve ser analisado o posicionamento do produto: se expande uma categoria existente, desafia um modelo dominante ou cria uma nova categoria de mercado. A análise competitiva é determinante para identificar lacunas e definir a vantagem diferenciadora.
4. Criação de protótipos
Ao planear as fotos do seu produto, considera como irás apresentar os teus itens a potenciais clientes.
A prototipagem é a fase em que se constrói uma amostra funcional do produto antes da produção em série. Normalmente, são criadas várias versões, cada uma incorporando melhorias e ajustamentos baseados em testes e feedback.
O protótipo final serve para:
- Avaliar a experiência de utilização;
- Testar a viabilidade técnica e o design;
- Estimar custos e tempos de produção;
- Obter dados para proteção legal (patentes e registos).
Empresas emergentes como a MìLà, fundada por Jen Liao, começaram com protótipos rudimentares, testando diretamente junto de clientes. A recolha de dados reais permitiu otimizar embalagens, logística e receitas com base em necessidades concretas do consumidor.
Outro exemplo é a Wild, marca britânica de desodorizantes sustentáveis, cujo desenvolvimento envolveu mais de 35 iterações até atingir um design final funcional e esteticamente distinto.
5. Seleção de materiais e parceiros de produção
Com o protótipo finalizado, inicia-se a construção da cadeia de fornecimento. Esta fase envolve a identificação de fornecedores, fabricantes e parceiros logísticos adequados.
Critérios principais de seleção:
- Comparação de amostras e avaliação da qualidade;
- Custos de produção e prazos de entrega;
- Localização e fiabilidade do parceiro;
- Possibilidades de escalabilidade e personalização;
- Conformidade com normas ambientais e de segurança.
É também nesta fase que se definem estratégias de armazenamento, envio e gestão de inventário, ajustadas ao modelo de negócio (produção local ou internacional).
6. Cálculo do custo de produção
O cálculo do custo de produção ermite determinar a margem de lucro esperada e a viabilidade financeira do produto. Para isso, devem ser contabilizados todos os custos diretos de produção (CMV — custo das mercadorias vendidas):
- Matérias-primas
- Montagem e fabrico
- Transporte e embalamento
- Taxas de importação
- Mão de obra direta
Além destes, devem ser considerados custos operacionais adicionais, como marketing, plataformas digitais e despesas fixas.
Com base nestes valores, é elaborada a estratégia de preços, equilibrando competitividade e rentabilidade. O resultado é uma visão clara da sustentabilidade económica antes do lançamento comercial.
7. Lançamento do produto
Depois de todas as fases concluídas, o produto encontra-se pronto para entrar no mercado. Um lançamento eficaz requer planeamento estratégico e uma execução coordenada entre marketing, logística e atendimento ao cliente.
Etapas principais:
- Definir o momento ideal de lançamento, considerando sazonalidade e tendências;
- Selecionar os canais de comunicação (redes sociais, e-mail marketing, SMS, afiliados);
- Criar mensagens centrais que transmitam a história do produto e o seu valor;
- Recolher feedback inicial e ajustar estratégias conforme os resultados.
Um lançamento bem preparado não termina na venda inicial, deve incluir um sistema contínuo de recolha de dados e opiniões para futuras melhorias.
Exemplos de desenvolvimento de produto
Cada percurso de desenvolvimento de produto é distinto e reflete os desafios, decisões e aprendizagens do respetivo empreendedor. Os casos abaixo ilustram diferentes abordagens à inovação, prototipagem e entrada no mercado.
Bola Grills
O fundador da Bola Grills, David Levy, pretendia criar um grelhador que permitisse cozinhar sem se afastar dos convidados. Com base nesse princípio, desenhou um modelo de mesa, compacto e funcional, que integrava ventilação otimizada para carvão e tecnologia de segurança adequada a superfícies domésticas.
Com o apoio de estudantes universitários, desenvolveu o protótipo inicial e testou o conceito através de uma campanha de crowdfunding, que angariou 22.000 euros e resultou na venda das primeiras 94 unidades.
Durante o processo, enfrentou um contratempo significativo: o fabricante original não cumpria os padrões exigidos. Após cinco tentativas falhadas, optou por interromper a parceria e recomeçar o processo de fabrico com um novo fornecedor. A decisão revelou-se acertada, o produto final foi lançado a tempo da época alta de grelhados e consolidou a marca como referência em soluções compactas para cozinhar ao ar livre.

City Seltzer
Alguns dos produtos mais bem-sucedidos nascem por acaso. Em 2020, durante um festival de cerveja organizado pela Dominion City Brewing, a equipa decidiu oferecer seltzers com sabor a creamsicle para manter os visitantes hidratados.
O resultado foi inesperado: os participantes começaram a perguntar onde poderiam comprar aquela “água de creme de laranja”. Esse feedback espontâneo revelou uma oportunidade clara de mercado.
Percebendo o potencial, Josh McJannett, cofundador da City Seltzer, transformou o conceito temporário numa nova linha de bebidas.

A empresa utilizou os equipamentos e redes de distribuição já existentes da cervejaria, desenvolveu embalagens vibrantes e distintas, e iniciou a comercialização em bares e restaurantes locais.
Pouco tempo depois, a marca expandiu-se para vendas diretas ao consumidor, consolidando-se como um exemplo de inovação dentro do setor de bebidas.
Brightland
Aishwarya Iyer fundou a Brightland após identificar uma lacuna evidente no mercado de azeite: a maioria dos consumidores não sabia a origem nem a qualidade do produto que comprava. Segundo a própria, “as pessoas ficavam diante das prateleiras do supermercado com um ar confuso - isto em 2016 e 2017 - e pensei: há claramente espaço para criar uma marca que desperte entusiasmo e orgulho, algo que as pessoas queiram exibir na sua bancada,” afirmou em entrevista ao Shopify Masters.
Determinada a compreender o setor em profundidade, Iyer dedicou-se à pesquisa, frequentando cursos no UC Davis Olive Center, lendo extensivamente sobre o tema e mantendo conversas diretas com produtores agrícolas.
Esse trabalho aprofundado permitiu-lhe desenvolver um azeite que não só apresentava um sabor excepcional, como também apoiava explorações locais e introduzia transparência num setor pouco regulado.
Além da qualidade do produto, a embalagem desempenhou um papel fundamental: as garrafas brancas opacas, resistentes à luz ultravioleta, foram projetadas para preservar a frescura do azeite, impedindo a oxidação, e simultaneamente oferecer um design minimalista e sofisticado.
A combinação de funcionalidade, estética e autenticidade tornou a Brightland uma referência de inovação e clareza no mercado alimentar premium.
Perguntas frequentes sobre desenvolvimento de produto
O que é o processo de desenvolvimento de produto?
O desenvolvimento de produto engloba todas as etapas necessárias para levar uma ideia ao mercado, desde a geração de conceitos e prototipagem até à definição de custos e lançamento comercial.
Como podem surgir novas ideias de produtos?
As ideias podem nascer da observação e da melhoria de produtos existentes.
Um dos métodos mais utilizados é o SCAMPER, acrónimo de Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Utilizar de outra forma, Eliminar e Reorganizar.
Cada etapa estimula a criatividade, permitindo reformular produtos e transformá-los em novas propostas de valor, por exemplo, combinar dois itens distintos para criar uma solução única.
Qual é a diferença entre desenvolvimento de produto e gestão de produto?
O desenvolvimento do produto concentra-se na criação, design e produção do artigo em si. A gestão de produto supervisiona todo o processo, garantindo que as equipas técnicas e estratégicas trabalham de forma coordenada para atingir os objetivos comerciais.
Quais são as 7 etapas do desenvolvimento de produto?
- Gerar ideias
- Pesquisar o mercado
- Planear a abordagem e posicionamento
- Criar protótipos
- Selecionar materiais e parceiros
- Calcular custos e margens
- Lançar o produto
O que é um produto mínimo viável (PMV)?
O PMV é uma versão inicial de um produto, desenvolvida com as funcionalidades essenciais para ser testada junto do público-alvo.
Esta abordagem permite validar o conceito precocemente, recolher feedback real dos clientes e fazer melhorias antes de investir numa produção completa ou numa campanha de marketing em larga escala.


