A pandemia trouxe um impulso inesperado à indústria de mobiliário e artigos para o lar. Com mais tempo em casa, os consumidores investiram em melhorar os seus espaços, levando as vendas de mobiliário doméstico nos EUA a atingir 10,7 mil milhões de euros em setembro de 2020, um recorde histórico.
Mas o crescimento não durou. Nos três anos seguintes, o setor sofreu com disrupções na cadeia de abastecimento, escassez de materiais, queda no mercado imobiliário e redução do consumo. Em 2023, os gastos em mobiliário doméstico caíram 5,4%, totalizando 133,6 mil milhões de euros, tornando-se uma das categorias mais afetadas. Marcas como Z Gallerie, Noble House Home Furnishings e Mitchell Gold + Bob Williams chegaram a declarar falência.
Num cenário económico mais exigente, os retalhistas querem saber: como atrair e reter clientes em 2025? De seguida, destacam-se as principais tendências de e-commerce que estão a moldar a indústria e o que as marcas podem aprender com elas.
Qual é o estado da indústria de mobiliário doméstico em 2025?
Para contextualizar, a indústria de mobiliário e artigos para o lar engloba uma grande variedade de produtos B2B e B2C, incluindo:
- Mobiliário interior e exterior
- Revestimentos de pavimento
- Utensílios de cozinha
- Eletrodomésticos
- Decorações
- Estofos e têxteis
- Produtos de limpeza
O maior impacto recente veio da crise no mercado habitacional. As taxas de hipoteca quase atingiram 8% e os preços das casas aumentaram em média 8,5% num trimestre (em algumas regiões, mais de 25%). O resultado foi a queda das vendas de casas para o nível mais baixo em 13 anos.
Esse cenário refletiu-se nos retalhistas do setor. Dados da YipitData mostram que grandes marcas como a Ashley Furniture registaram menos 21% em volume bruto de mercadorias no 1.º trimestre de 2023. Até players digitais como a Wayfair encerraram o ano com 738 milhões de euros em prejuízo.

No final de 2023, as taxas de hipoteca recuaram ligeiramente e os preços das casas começaram a estabilizar. Isso gerou um pequeno impulso no setor de mobiliário, com a Wayfair a registar um crescimento de 0,4% nas vendas em relação ao trimestre anterior.
Especialistas acreditam que 2024 deverá trazer um mercado habitacional mais estável, o que tende a beneficiar diretamente a indústria de mobiliário e artigos para o lar, criando melhores condições para recuperação e crescimento.
Tendências de e-commerce na indústria de mobiliário e artigos para o lar em 2026
- Mobiliário multifuncional
- Mobiliário inteligente
- Recomendações personalizadas
- Compras online de artigos para o lar em crescimento
- Realidade aumentada para experiências imersivas
- Marcas DTC a competir com grandes retalhistas
- Produtos sustentáveis com propósito
- Prioridade ao mobile e-commerce
- Modelos de subscrição
Embora o futuro do setor ainda seja incerto, as marcas que explorarem estas tendências podem impulsionar o crescimento e conquistar consumidores com novas expectativas de compra.
1. Mobiliário multifuncional
Com menos consumidores a comprar casa e mais pessoas a viver em espaços pequenos, cresce a procura por peças que ocupam menos espaço e desempenham várias funções. O resultado é um aumento expressivo no interesse por mobiliário multifuncional.
O mercado já vale 8,7 mil milhões de euros e deverá crescer a 7,5% ao ano até 2031. Segundo Manuel Delgado, especialista em design de interiores estratégico da IKEA Espanha, “a vida na sala tornou-se flexível, e o design está a evoluir para soluções versáteis, modulares e multifuncionais”.
Alguns exemplos em destaque:
- Sofás-cama
- camas, bancos e otomanas com arrumação
- mesas dobráveis ou extensíveis
- secretárias de parede
- equipamentos de exercício compactos, como passadeiras de caminhada
2. Mobiliário inteligente
A crescente adoção de casas inteligentes está a expandir também o mercado de mobiliário com tecnologia integrada, que deverá atingir 4,26 mil milhões de euros até 2030.
Hoje, muitas marcas já oferecem funcionalidades como:
- carregamento sem fios embutido
- altifalantes integrados
- monitorização de saúde
- comandos por voz ligados a Wi-Fi, Bluetooth e dispositivos IoT
A Sleep Number é um bom exemplo da tendência: os seus colchões incluem sensores biométricos que monitoram os padrões de sono. O utilizador pode consultar os dados na aplicação SleepIQ, o que ajuda a ajustar o colchão e a melhorar a qualidade do sono.
Além de oferecer uma experiência mais personalizada, esta tecnologia reforça o valor do produto e cria um motivo claro para o consumidor escolher a marca face à concorrência.

3. Recomendações personalizadas de produtos
A personalização impulsionada por IA já é uma realidade: cerca de 90% das empresas utilizam-na para adaptar ofertas e recomendações. No setor de mobiliário e artigos para o lar, essa personalização pode aumentar vendas ao sugerir produtos com base no histórico de compras ou nas visualizações de cada visitante.
Os consumidores reagem bem a isso:
- 49% afirmam que comprariam novamente se recebessem uma experiência personalizada (um aumento de 7% face ao ano anterior).
- 62% dos líderes empresariais apontam a retenção de clientes como o maior benefício da personalização.
A Mustard Made, marca premium de cacifos, é a prova deste impacto. Ao mostrar recomendações personalizadas com base na navegação dos utilizadores, a empresa viu:
- um aumento de 15% no valor médio das encomendas
- e 158% de crescimento na receita
Num mercado onde os clientes esperam que as marcas comuniquem diretamente com eles, personalizar deixou de ser opcional, é uma oportunidade clara de crescimento.
4. As compras online de artigos para o lar vieram para ficar
Mesmo com a queda geral no mercado de mobiliário, as compras que continuam a acontecer estão a migrar para o online. Isto indica que os consumidores devem manter, e até ampliar, o hábito de comprar mobiliário pela internet em 2024 e nos anos seguintes.
Dados da Statista mostram essa mudança:
- as vendas físicas de mobiliário caíram de 11 mil milhões para 10,5 mil milhões de euros no final de 2023
- ao mesmo tempo, 1 em cada 5 consumidores globais comprou artigos para casa e jardim online mensalmente
Os compradores apontam melhores preços e facilidade de compra como as principais razões para preferirem o e-commerce.

Para incentivar mais consumidores a comprar online, os retalhistas de mobiliário precisam de apostar numa experiência fácil, conveniente e omnicanal. Os clientes querem a praticidade do e-commerce, mas também esperam recomendações relevantes e uma experiência personalizada.
A Article, marca DTC de mobiliário, usa o seu site para mostrar produtos de formas que não seriam possíveis numa loja física. Em entrevista à eMarketer, Duncan Blair explica:
“Muitos consumidores querem sentar-se num sofá antes de comprar, mas gostamos de inverter a questão e pensar: o que podemos mostrar online que não existe na loja?”
Uma das respostas é o conteúdo gerado pelos utilizadores. Segundo Duncan:
“Trabalhamos muito com fotografias dos nossos clientes nos seus próprios espaços. Isso mostra diferentes estilos e ajuda os compradores a imaginar o produto em casa.”
Outro foco é o sistema de avaliações, tratado como parte essencial da experiência:
“Alguns produtos têm mais de 2000 avaliações. Garantimos que são honestas e recolhidas de forma responsável.”
Esta abordagem combina confiança, visualização do produto no “mundo real” e conveniência digital, exatamente o que os compradores procuram quando escolhem comprar mobiliário online.
5. Use RA para proporcionar uma experiência de compra envolvente
A realidade aumentada (RA) está a tornar-se uma das ferramentas mais eficazes para vender mobiliário online. Como muitos consumidores ainda preferem “ver ao vivo” antes de comprar, a RA ajuda a reduzir a incerteza ao permitir que as pessoas visualizem os produtos diretamente no seu espaço.
Em vez de depender apenas de fotos e descrições, o cliente pode usar o telemóvel para ver o sofá na sala, testar o tamanho de uma mesa ou explorar a cor de um tapete no contexto real da sua casa.
Um exemplo é a Magnolia Market, marca conhecida pela sua loja icónica em Waco, Texas. Para clientes que não podiam visitar o espaço físico, a marca desenvolveu uma aplicação de RA com a Shopify. Através do ARKit da Apple, os produtos foram renderizados em 3D com elevado nível de detalhe, permitindo que os compradores “experimentassem” os artigos em casa.
O resultado? Uma experiência digital imersiva que aproxima a compra online da experiência de loja, e ajuda o cliente a tomar decisões com mais confiança.

Através da aplicação, os utilizadores podiam abrir uma página de produto, apontar o telemóvel para o espaço e ver o artigo surgir à sua frente, em tamanho real. Assim, a Magnolia Market passou a mostrar exatamente como cada peça ficaria na casa do comprador, sem que ele precisasse visitar a loja.
A RA ajudou a marca a recriar digitalmente a experiência de loja física, algo essencial uma vez que muitos clientes não podiam viajar até ao Texas. O realismo dos modelos criados com o ARKit da Apple impressionou até a própria equipa.
Segundo Stone Crandall, gestor de experiência digital da Magnolia Market:
“Vimos vídeos com um produto ARKit ao lado de um produto real, e há momentos em que nem consigo distinguir qual é qual.”
6. Crescimento contínuo de marcas DTC a competir com grandes retalhistas
O mercado de mobiliário e artigos para o lar continua concentrado: 11 grandes marcas detêm 55% da quota total. Nos EUA, retalhistas como Walmart (11%) e Target (7%) lideram, enquanto nomes como IKEA e Williams-Sonoma representam apenas 2% e 3% respetivamente.
Este domínio, porém, não está a travar a ascensão de marcas direto-ao-consumidor (DTC), que competem oferecendo produtos diferenciados, branding forte e experiências digitais mais ágeis. Essas marcas não tentam vencer pelo volume, mas sim pela proposta de valor, algo que cada vez mais consumidores procuram.

Esta fragmentação no setor indica que não há forte lealdade a marcas dominantes, o que abre espaço para novas propostas e preços mais competitivos. É um terreno fértil para marcas DTC com produtos diferenciados, posicionamento claro e experiências digitais superiores.
A Casper é um exemplo conhecido dessa disrupção. A marca iniciou-se com uma estratégia simples: apenas alguns SKUs e foco total na experiência do cliente, em vez de tentar lançar uma linha completa de imediato. Essa disciplina permitiu otimizar o produto, comunicar melhor o valor e ganhar escala apenas depois.
O resultado? A Casper transformou o modelo “colchão-numa-caixa” em tendência global e tornou-se líder do segmento, alcançando 497 milhões de euros em receita anual.
7. Produtos sustentáveis com propósito
A sustentabilidade continua a influenciar o comportamento de compra. 60% dos consumidores afirmam que pagariam mais por produtos com embalagens sustentáveis, e muitos avaliam não só o produto final, mas como ele foi feito, quem o produz e com que impacto.
Por isso, as marcas de mobiliário e decoração precisam de mostrar de forma clara como priorizam materiais responsáveis, processos éticos e menor desperdício, não apenas mencionar “sustentável” como slogan.
A Fabuliv, marca de decoração indiana, é um exemplo disso. A fundadora, Ishita Singh, destaca que sustentabilidade faz parte tanto do produto como do processo criativo:
“Fazemos muito upcycling. Reciclamos muito. O nosso objetivo é minimizar o desperdício.”
Segundo Ishita, esse propósito também se liga ao design:
“Seguimos um estilo minimalista e queremos unir funcionalidade às tendências de decoração. Cada peça combina tendências globais com o artesanato indiano.”
Além do impacto ambiental, a marca incorpora impacto social ao trabalhar com artesãos locais, oferecendo estabilidade financeira e reconhecimento nacional:
“Não estamos apenas a gerir um negócio para ganhar dinheiro. Queremos fazer uma diferença positiva na vida destes artesãos.”
Essa abordagem mostra por que sustentabilidade não é apenas um atributo de produto, é um valor que cria relação, confiança e preferência pela marca.

Ao longo das descrições de produto, a Fabuliv deixa claro que cada peça é feita à mão e não utiliza maquinaria de produção em massa. Por isso, o envio não é imediato, e essa informação é comunicada de forma transparente. Em vez de tentar competir pela entrega mais rápida, a marca valoriza o tempo necessário para criar algo artesanal e sustentável.
Ao explicar estes valores ambientais e sociais de forma aberta, a Fabuliv dá aos compradores uma razão real para se identificarem com a marca, não apenas pelo produto, mas pelo propósito que ele representa.
8. Priorizar experiências de compra móvel
Em 2024, estima-se que 65,8% dos utilizadores de telemóveis usam aplicações de retalho, o que significa que vender bem não depende apenas de ter um site “responsivo”. As marcas de mobiliário precisam oferecer experiências móveis verdadeiramente fáceis, rápidas e informativas.
Os compradores querem:
- acesso rápido a detalhes importantes
- descoberta simples de novos produtos
- conteúdos relevantes para a sua compra
- ferramentas que os ajudem a visualizar antes de decidir
A Monte Design é um bom exemplo disso. O site móvel da marca é limpo, intuitivo e direto, com descrições completas sobre dimensões, cuidados, materiais e envio. Além disso, inclui a opção “Ver no meu quarto”, que permite visualizar o produto no espaço real do comprador.
Ao otimizar o formato dessa forma, o retalhista não só facilita a compra, como reduz dúvidas, devoluções e hesitação, fatores que impactam diretamente as vendas de mobiliário online.

Priorizar o formato mobile trouxe resultados claros para a Monte Design. Durante a atualização do site com a Shopify, a marca descobriu que 70% do tráfego total vinha de dispositivos móveis. Depois de otimizar a experiência para telemóveis, a empresa registou:
- +15% de crescimento no tráfego de site.
- +12% de aumento de receita ano após ano.
Com a maioria dos consumidores a pesquisar e comprar mobiliário a partir do telemóvel, otimizar o sistema mobile deixou de ser uma opção técnica, tornou-se uma estratégia direta de crescimento.
9. As subscrições reinam supremas
As subscrições estão a ganhar espaço no setor porque ajudam a resolver um desafio central do mobiliário doméstico: os clientes não compram peças grandes com frequência. Uma cama ou um sofá pode durar anos, o que limita o valor de vida útil do cliente.
Para aumentar a rentabilidade e manter a relação com o comprador, muitas marcas estão a criar modelos de subscrição focados em artigos menores e recorrentes.
Além de garantir receita previsível e fidelização, as subscrições atraem os consumidores pela possibilidade de:
- experimentar novos produtos
- receber itens que já usam com regularidade
- pagar menos por compras frequentes
Os retalhistas podem aproveitar estas preferências oferecendo pacotes mensais de produtos complementares ao lar, como decoração, cuidados com a casa ou plantas, categorias com compra recorrente e preço acessível.
Um exemplo é a Rooted, que criou caixas mensais de plantas personalizadas pelas preferências do cliente. A subscrição, que começa nos 22 euros, inclui ainda uma aplicação com dicas de cuidados e funcionalidades de compra móvel, fortalecendo a relação contínua com o comprador.
Ao apostar em subscrições bem pensadas, as marcas de artigos para o lar conseguem aumentar o LTV, criar hábito de compra e manter-se presentes na rotina dos clientes mesmo depois da grande compra já ter sido feita.

O futuro da indústria de mobiliário e artigos para o lar
Ao entrar em 2026, as marcas que se destacarem serão as que souberem unir experiência de compra simples, personalização e valor real para o cliente. Tendências como mobiliário multifuncional, RA para visualização de produtos, modelos de subscrição e estratégias DTC mostram que os consumidores procuram conveniência, inovação e propósito nas suas escolhas.
Novos dados do nosso guia de crescimento de e-commerce revelam ainda que, no setor de mobiliário, os dois canais com maior valor médio de encomenda são vendas diretas e marketing de afiliados. Isto confirma que estratégias focadas em influência, conteúdo e parcerias são hoje decisivas para gerar vendas qualificadas e crescimento sustentável.
Dominar estas práticas, acompanhar as mudanças de comportamento do consumidor e manter uma abordagem centrada na experiência do comprador será essencial para ganhar vantagem competitiva.
Perguntas frequentes sobre tendências da indústria de mobiliário e artigos para o lar
A indústria de mobiliário doméstico está a crescer?
Sim. Apesar da queda recente, o mercado está a recuperar. Em 2023, os consumidores dos EUA gastaram 133,6 mil milhões de euros em mobiliário. Com a melhoria do mercado habitacional e da inflação, o setor deverá atingir cerca de 202 mil milhões de euros em 2024.
Qual é o tamanho do mercado de mobiliário online?
As vendas online do setor atingiram 15,4 mil milhões de euros em 2023. A previsão global aponta para 313 mil milhões de euros até 2031, mostrando uma mudança clara para o e-commerce.
O que está a acontecer atualmente no setor?
O mercado está mais competitivo: marcas DTC estão a pressionar grandes retalhistas, os consumidores estão a comprar mais online e as empresas estão a investir numa experiência móvel mais forte para reter clientes.
Quais são as principais tendências do mercado de mobiliário?
- Mobiliário inteligente (tecnologia integrada)
- Realidade aumentada para compras online
- Peças multifuncionais e de otimização de espaço
- Produtos sustentáveis e com propósito
- Subscrições e modelos recorrentes
- Recomendações personalizadas com IA
O que esperar do futuro da indústria de mobiliário?
O setor deverá apostar em:
- Experiências de compra personalizadas via IA
- Visualização de produtos com realidade aumentada
- Mais tecnologia integrada nos produtos
- Design funcional para espaços mais pequenos
- Expansão de marcas DTC com preços competitivos


